05 – A história dos bravos Tamoios , por Dolfo

Olhei a placa, Rodovia dos Tamoios, e logo me veio a imagem do Araribóia, o índio que havia exterminado os Tamoios que habitavam a região de Niterói no litoral Fluminense. Enquanto Tupis e outras tribos habitavam aldeias mais perto da capital, os Tamoios dominavam o litoral tricolor de Niterói até Cabo Frio, com aldeias também no litoral sul de São Paulo. Aprofundei a pesquisa pela internet sobre os Tamoios, pois a idéia já era construir um samba-enredo para contar esta história.

E aí me deparei com algo que aprendemos na escola, mas esquecemos, a Confederação dos Tamoios, chefiada pelos caciques Cunhambebe e Imberê, foi o único movimento organizado dos índios brasileiros que lutou contra a ocupação portuguesa. Eram apoiados pelos franceses, que segundo contam chegaram a doar armas de fogo aos índios que num destes levantes chegaram a sitiar São Sebastião encurralando os portugueses. No Rio, Araribóia que habitava a Ilha do Governador, antigamente denominada Ilha dos Gatos, foi expulso de lá pelos Tamoios por colaborar com os portugueses. Isso fez com que Araribóia e sua tribo dos Termiminós se alinhassem pra valer com os portugueses invadindo Niterói e matando muitos Tamoios que fugidos subiram o litoral em direção a Cabo Frio. A coroa portuguesa não descansou enquanto não exterminou todos os Tamoios, que foram encurralados numa batalha final na Praia do Peró em Cabo Frio. É inclusive por isso que existe o distrito dos Tamoios em Cabo Frio, nas proximidades, foi o último reduto da tribo. Enfim, o meu samba-enredo conta a história destes “guerreiros tricolores”.

Sobre a criação, depois da pesquisa tinha escrito o samba e baixado uma base de escola de samba pra editar cantando no micro via Cool Edit. Mas apanhei muito pra montar e editar e desisti. Parti para um plano B. Chamei dois parceiros de longa data pra tomar uma cerveja no 98 na São Clemente. Um o cavaco oficial da Tijuca, Vitão, e o outro o surdo de primeira do Grêmio Esportivo e Escola de Samba Acadêmicos dos Bellina, Rafa Calvet. Depois de algumas garrafas e um ótimo aipim com carne seca o samba saiu bonito. Muito ruído, conversa de bar, mas ficou legal. Não sei se vou conseguir limpar muito. Agora é pensar no desfile na Sapucaí em 2014.

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A História dos Bravos Tamoios

Salve! Salve! O cacique Cunhambebe!
Salve! Salve! O cacique Imberê!
Salve! Salve! Todo Tamoio guerreiro
Que não se curvou inteiro ao domínio português.

A nossa tribo era de bravos remadores
Que em canoas cruzavam a Guanabara
De índios fortes e também desbravadores
Vivendo feliz a vida que Pajé nos deu
Até que um dia chegaram às caravelas
Com a cruz e o pecado
Que aqui nunca viveu

Então para lutar por nossa terra
De Bertioga até o Cabo Frio
Unimos nossas aldeias
E ajudado por franceses encaramos o inimigo

Termeminó traidor
Da ilha dos gatos você saia por favor
Nós não vamos permitir
Trair seu povo, sua cultura sua cor
Refrão
Se liga Araribóia
Já te botamos pra correr uma vez
Queria ver é você vir no mano a mano
Sem a ajuda de soldado português

Os jesuítas amigos
Até tentaram celebrar a paz
Mas como isso seria possível
Se o nosso ser na vida
Não podia existir mais?

Muitos de nós padecemos
Epidemias, bala de chumbo e canhão.
Com nossas flechas resistimos
Até que no Peró só nos restou a rendição.

A história não catalogou
A covardia num distante Cabo Frio litoral
Era só sangue no amanhecer do dia
Foi o fim da alegria
E do nosso ideal.