2009 – 05 – C.B.U.Q., por guga_bruno

Uma das coisas que mais me chamou a atenção em “asa branca” foi o fato de estar profundamente contextualizada . é um nordestino cantando um ritmo nordestino , falando sobre uma realidade do sertão nordestino . é a seca cantada com seu forte sotaque , por isso de uma autenticidade única . então tentei manter também uma coerência : compor uma música urbana ( que é a minha realidade ) , falando sobre a cidade debaixo do mesmo sol ( em tempos de aquecimento global , por que não ??? mas só pensei nisso agora ) .

o riff ( que virou a linha de baixo ) é roubado da introdução de “asa branca” . ele foi adaptado ao ritmo ( mais urbano , impossível )do fanque e justaposto a uma guitarra distorcida ( também urbana ) marcada e repetitiva . a melodia funciona quase paralelamente à essa base-mantra urbano .

para a letra , imaginei um dia de verão , muito sol e calor , centro da cidade , meio-dia . enquanto luiz gonzaga olha a terra ardendo , olhei o asfalto ardendo . e o resto veio desse cotidiano .

—-

Concreto betuminoso usinado à quente

quando o asfalto ferver
borracha do carro , sola de sapato , pele , pé descalço
vão derreter
quando o asfalto queimar
carros vão passando , vidas vão passando e alguém passando fome
pra te entreter

se sofrer
de calor
passe a tarde inteira no leblon

quando o asfalto afundar
feche o olho seco , chore pelo avesso , ande no passeio
pra evitar
quando o asfalto ruir
pule um precipício , pule da janela , não pare no meio
pra escapar

se perder , solução :
passe a vida inteira no shopping

quando o asfalto se abrir
veja “que braseiro” , pense “que fornalha” , ouça “falta d’água”
pra concluir
quando o asfalto sumir
corra acelerado , grite acelerado , fuja acelerado
pra se enganar

conseguiu ?
escapou ?
deixe a carnavália te comer
deixe a carnavália te comer
deixe a carnavália te comer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.