Um papo com Dolfo sobre composição :

MÚSICA ARTESANAL – Quando e por que você começou a compor ?

Dolfo – Creio que por volta dos 17 anos. Começou com a coisa da poesia, as primeiras canções surgiram quando aprendi um pouco de gaita e violão. Nada muito elaborado, mas foi um começo.

MÚSICA ARTESANAL – E como foi o nascimento da primeira composição, qual a sensação ?

Dolfo – Nada muito místico não. Nem lembro, mas com certeza foi alguma coisa cantarolada que depois foi ajustada para uma gaita ou violão.

MÚSICA ARTESANAL – Para que compor ? Qual a função da música ?

Dolfo – Para se expressar pro mundo. Esta é uma função da música e das artes em geral. É bem a linha daquele poema do Drummond que diz “meu coração é bem pequeno / nele não cabem nem as minhas dores / preciso de todos”. A música é um modo bacana de você extravasar um sentimento, fazer um protesto, enfim, dar o seu recado de uma forma lúdica. E acaba sendo algo que entra num megafone e pode atingir um número maior de pessoas. Creio que é uma forma de descompressar também, colocar a coisa pra fora.

MÚSICA ARTESANAL – Qual a relação que você tem com sua música ?

Dolfo – A gente se dá bem apesar de nossas limitações. A palavra compositor, por exemplo, acho demais para o que faço. Gosto de falar que rabisco umas canções. E gosto de fazer isto, de pegar um violão ou outro instrumento que nem domino plenamente e dentro daquelas limitações conseguir fazer uma canção bacana.

MÚSICA ARTESANAL – Já tinha composto por encomenda ? A relação é a mesma ?

Dolfo – Não e acho que comigo isto nunca vai acontecer. A minha relação é de fazer isto por prazer sem interesses de mercado. Então, quando aparece um tema aqui, não considero aquilo uma encomenda. É apenas um ponto de partida. No tema vou trabalhar algo que me interessa, e dali vou partir para minha leitura e reinventar aquilo dentro de algo que eu curta. É interessante ver que aqui Música Artesanal as músicas que surgem percorrem caminhos diferentes, cada um dá desdobramento de acordo com seu ponto de vista. Cada um tem a sua inspiração.

MÚSICA ARTESANAL – Acha que um embasamento musical é necessário para o processo criativo ? Se sim , até que ponto ? Se não , é utilizado qual mecanismo ?

Dolfo – Não. O cara pode não tocar nenhum instrumento, que se tiver talento vai cantarolar algo, assobiar e fazer uma canção. Mas é claro que conhecer música ajuda e muito, e vai te permitir ser melhor naquilo. Estudo é sempre válido. Eu por exemplo musicalmente me acho bem limitado, se estudasse mais e conhecesse mais, creio que poderia fazer canções melhores. Mas ao mesmo tempo me satisfaço com os recursos que tenho. O mecanismo utilizado é este, cantarolar. Depois é tentar um instrumento pra acompanhar, trabalhar um arranjo bacana, mas aí, pra isso, torna-se necessário o embasamento musical, mas ele pode ser algo posterior ao processo criativo. Tenho certeza que se pegar as minhas canções simples e colocar na mão de uma pessoa com embasamento musical elas podem ficar ainda melhores. Isto já aconteceu algumas vezes e sempre me agradou muito, uma canção simples com uma melhorada no arranjo fica com outra cara. Mas sem um embasamento musical você acaba fazendo o simples.

MÚSICA ARTESANAL – Você percebe algum tipo de estilo, assinatura ou padrão nas músicas que compõe ?

Dolfo – Ela tem faíscas de rock, mpb, samba, reggae e blues. Gosto de passear por estes estilos aí.

MÚSICA ARTESANAL – O que faz quando descobre um “plágio” , quando percebe que sua música parece com outra , segue adiante ou abandona ?

Dolfo – Sigo adiante sempre. Até por que como o fim não é comercial não tenho que me preocupar com isso. E hoje em plenos anos 2013 é muito difícil não ter acorde, um riff, uma melodia que não te remeta a alguma coisa. Plágio pra mim é quando partimos da original para construir a nossa e ainda assim pode ser uma releitura, uma inspiração de partida. Acho essa história de plágio meio complicada.

MÚSICA ARTESANAL – Quando e por que se abandona uma composição ?

Dolfo – Quando não está me agradando, largo de mão.

MÚSICA ARTESANAL – Como reage a uma crítica negativa ? Qual o peso que as críticas positiva e negativa têm em você e na sua relação com sua música ?

Dolfo – Críticas positivas, que te mostram caminhos pra crescer, são sempre bacanas. E negativas tem que se ter maturidade pra ignorar e não se abalar com elas. Para não desistir e seguir em frente naquilo que se gosta de fazer. Eu sou uma ótima vidraça para críticas pelas minhas limitações instrumentais e vocais. Mas não ligo muito não, pois as reconheço e convivo bem com elas.

MÚSICA ARTESANAL – Com que freqüência compõe ? Já teve períodos de seca ? E como encara esses períodos ?

Dolfo – Agora com o música artesanal voltei a pegar o violão pra fazer canções. Estava bem afastado desta coisa, e por este lado foi muito bacana. Voltei a fazer algo que sempre gostei. Os períodos de seca não me incomodam, pois faço um monte de coisas. Sou daqueles que queria que o dia tivesse 50 horas pra eu poder fazer mais.

MÚSICA ARTESANAL – Costuma registrar as músicas/ideias por escrito ou gravação , ou vai guardando tudo na cabeça ?

Dolfo – Às vezes rabisco num papel e coloco uns acordes e se passar muito tempo já era, quando voltar naquilo a melodia pode ser outra. O música artesanal me deu uma idéia bacana, poderia gravar. Não faço isso. Quando fica algum registro geralmente é só no papel. No passado cheguei a gravar algumas coisas em fita k7, mp3, mas isso deve estar enfiado em algum canto lá em casa sem muito compromisso.

MÚSICA ARTESANAL – Como é seu processo criativo ? Há algum método ou cada música tem seu próprio caminho ?

Dolfo – Tenho dois caminhos. O mais comum é cantarolar a música e escrever a letra e depois partir para um instrumento. No momento de ir para o instrumento, algumas vezes a canção sofre alguns ajustes pela minha incapacidade de reproduzir na integra o cantarolado. É nessas horas que com certeza um pouco mais de embasamento musical me permitiria fazer algo melhor. O outro caminho é ficar brincando com o instrumento, tirando um som, e dali partir para uma letra.

MÚSICA ARTESANAL – O que te motivou a participar do projeto ?

Dolfo – Poder voltar a fazer algo que sempre gostei de fazer e voltar a estar mais próximo do meu violão. Estávamos meio afastados.

MÚSICA ARTESANAL – Por que escolheu esses temas? Qual foi a primeira impressão diante dos temas escolhidos?

Dolfo – Quando vi os temas todos, tive boas idéias para três dos temas, e posso dizer que estou bem à vontade para criar neles. Tem um tema no qual não me sinto muito à vontade, principalmente por não ter capacidade e conhecimento musical para produzir uma música dentro da idéia que gostaria. E olha que o tema é baseado na canção de uma banda que gosto muito. A impressão diante dos temas foi de que o desafio seria bem interessante.

MÚSICA ARTESANAL – Se considera um bom compositor ?

Dolfo – Mediano, me falta bastante tessitura. Me considero um bom letrista. Pra compositor falta um pouco mais.

MÚSICA ARTESANAL – O que é um bom compositor ?

Dolfo – Eu acho que tessitura é fundamental. Saber explorar as escalas musicais, tonalidades e harmonizar tudo isto pra produzir uma música bacana. Quando a música ganha letra, além de tudo isso o compositor tem que ser um pouco poeta também.

MÚSICA ARTESANAL – Quem é(são) a(s) principal(is) referência(s)/influência(s) de composição para você ? Desde quando ?

Dolfo – Sempre gostei de rock, blues, mpb, samba e reggae. E não gostaria de citar nomes, pois algo que gosto muito vai ficar de fora. A lista é grande.

MÚSICA ARTESANAL – E como se dá essa influência ? Considera ela nítida nas suas músicas ?

Dolfo – Naturalmente. Sim, até onde eu consigo reproduzir. Deixo a desejar um pouco no rock ´n´ blues. Gostaria de poder reproduzir no instrumento um pouco mais do som que curto. Principalmente explorar escalas visto que toco violão apenas pela linguagem dos acordes.