13 – Festa , por Gabriel Menezes

Um eclipse solar é um fenômeno que ocorre quando a Lua se interpõe entre a Terra e o Sol, ocultando a sua luz numa certa faixa terrestre. Existem quatro tipos de eclipses solares, entre eles há o chamado eclipse solar anular. Este acontece quando o diâmetro aparente da Lua é menor do que o Sol, todavia ainda occorendo o bloqueio da maior parte da luz solar. Nesse eclipse, o Sol aparece como um anel muito brilhante ao redor do disco escuro da Lua. Daqui a exatos 10 anos um eclipse desses realizar-se-á por esses lados do Universo.

Eclipses eram interpretados como presságios pelos povos antigos. O historiador grego da Antiguidade Heródoto escreveu que Tales de Mileto previu um eclipse que ocorreu durante uma guerra entre os médos e lídios. Quando o eclipse acabou ambos os exércitos decidiram assinar a paz. A palavra “eclipse” vem do latim “eclipsis”, derivado do grego “ékleipsis” (que falta; desaparecimento), cuja origem é a palavra “ekleipein” (separar), formado por “ektos” (fora) e leipein (deixar); ou seja, “deixar fora”.

É justamente a etimologia da palavra “eclipse” assim como o anel formado pelo sol num eclipse anular que serviram de inspiração para essa pequena obra musical. Uma mulher amarga em um casamento obscuro e infeliz resolve “desaparecer” em uma festa que ocorre durante um eclipse, nunca mencionado diretamente na letra, apenas sugerido. O “desaparecimento” ocorre de forma psicológica, através de grandes doses de álcool ingeridas pela nossa personagem. No decurso de sua aventura etílica, ela narra passo a passo suas alterações sofridas, traduzidos na letra em versos que se “repetem” com as palavras sempre trocadas em cada estrofe. O falar cambaleante do bêbado é capturado através da voz principal, que atrasa e adianta a melodia à medida que o tempo passa. Apesar de ser uma música tonal, ela não tem uma tonalidade específica, “passeando” pelos tons e “deixando fora” qualquer tipo de repouso, sempre em estado de movimento, assim como nossa personagem em sua fuga alcoólica de uma vida vazia e eclipsada.

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Hoje à noite vai ter a festa,
cheia de gente que você detesta.
Taças carregadas de licor,
assuntos vazios e sem cor.
Vou usar meu vestido extravagante,
sei que você vai achar elegante.
Ponha aquele terno seu azul
que compramos lá no sul.
Não sei o porquê dessa demora,
estamos esperando há meia hora!
Enfim, conseguimos adentrar!
Copos de vinho já vou tragar…
Com os garçons, deixo meu sotaque,
o que será que tinha no conhaque?
Estou rindo de nós sem parar,
sinto meus olhos a girar…

Hoje a festa vai ser à noite,
cheia de você que detesta gente.
Taças vazias e sem cor,
assuntos carregados de licor.
Olhe este seu terno extravagante,
sei que você o acha elegante.
Vou tirar o meu vestido azul
pra mostrar pro pessoal do sul.
Não sei a demora desse porquê,
estamos bebendo há meia hora!
Enfim, conseguimos superar!
Vinhos de copos já vou tragar…
Com os sotaques, deixo os garçons,
o que o conhaque será que tinha?
Estou rindo de nós sem parir,
giro meus olhos a sentir…

Hoje à noite vai ter a gente,
cheia de festa que você detesta.
Licor carregado de vazios,
assuntos com taças de cores.
Vou despir meu azul extravagante,
sei que elegante você vai ficar.
Tire aquele terno seu do sul,
que compramos no vestido.
Não sei o vinho desses copos,
estamos adentrando há meia hora!
Enfim, conseguimos demorar!
Copos de porquê já vou tragar…
O conhaque está rindo de nós
que sotaque tinha em meus olhos?
Fiquei nos olhando sem parar,
com os garçons estou a girar…