Temporada 2009 - Tema 03

quadro-azul

por Felipe Schuery

Fiquei matutando uma forma de “materializar abstração”. Pintou a idéia de vender a alma e fazer música etérea, sem melodia definida. Um coro tétrico de almas penadas.

vende-se alma

vendo alma lavada
tratada com carinho e afeição
é por motivos de saúde
o corpo não suporta tamanha abstração

por Guga Bruno

Pelo menos pra mim , foi um tema bem difícil , porque não me disse nada . Os recursos que costumo usar pra escrever não foram “ligados” , não teve emoção , nem humor , absolutamente nada . 

Inicialmente pensei em brincar com as palavras , alguma coisa meio concretista , que caiu no decorrer do processo . Então tentei outro caminho : descrever o que vi . Vi um quadro onde o azul dominava , mas havia outras cores . Achei que poderia ser um bom começo . Da repetição disso saiu a melodia .

A partir daí , as imagens foram surgindo mais facilmente . Se o quadro não era totalmente azul , pensei em outras coisas azuis que sofriam interferências ( o mar , o céu ) . Depois pensei na finitude das coisas ( talvez influenciado sutilmente pela “cura de schopenhauer” , que acabei de ler hoje ) tanto boas quanto ruins . Ainda pra reforçar a repetição , usei quatro vozes e a bateria eletrônica . O resultado ? Filosofia de botequim sobre arte abstrata !

filosofia de botequim sobre arte abstrata

nem todo azul é azul inteiramente
nem todo azul é azul inteiramente

mesmo quando a terra é azul , é só de longe
mesmo quando o mar é azul , é transparente
mesmo quando o céu é azul , existe nuvem
mesmo quando o quadro é azul , existem cores

nem todo azul é azul eternamente
nem todo azul é azul eternamente

mesmo quando o sonho é azul , existe sangue
( nem todo sonho é azul é eternamente )
mesmo quando o sangue é azul , existe o medo
( nem todo sangue é azul é eternamente )
mesmo quando o medo é azul , existe a vida
( nem todo medo é azul é eternamente )
mesmo quando a vida é azul , existem cores
( nem toda vida é azul é eternamente )

nem toda dor é assim , eternamente
nem toda dor é assim , eternamente
mas nem toda vida é azul , eternamente
nem toda vida é azul , eternamente

se sempre existe a chance de desbotar
se sempre existe a chance

por Mauricio Coutinho

Não sabia realmente o que fazer para o tema 3. Percebi então que o exercício de imaginar estava difícil. Pois bem, decidi então falar sobre a imaginação. 

Desprendi de tudo e comecei a pensar em tudo ao mesmo tempo. Sertão, Disney, Ar, Tv Globo, Moda, Muriqui, Biologia, etc. Depois ao começar a fazer os arranjos, vi que aquela foto daria um bom verso de capa de disco dos anos 80. Decidi fazer hit 80’s. Acho que não consegui, mas espero que gostem.

Basta imaginar

Vem qualquer coisa de arquitetar
Tem tal maneira de inventar
Mais que o limite do céu
É botar no papel
O que vier pensar
Onde tem bacharel
Pensador quelelém
Jardineiro Infiel
E o que imaginar

Tem carroça de vaca ao mar
Cão que arrota meleca e mais
Mel tem um gosto de fel
Lancha voa em motel
Bicicletas no mar
E o conceito que é réu
Nem me sai do lugar
Pois pra ser menestrel
Basta imaginar

por Marcello Cals

nada é feito para ser arte. arte é a sua capacidade de absorção, e não a minha de criação. o que pra mim não é absolutamente nada para você é genial, ou vice-versa.

Insistimos em botar à prova o que nos é dado como arte e nos elegemos gênios quando vimos tudo em nada. Minha estorinha é mais ou menos por aí. A melodia, novamente, veio do nada. A segunda parte, no entanto, surgiu quando fui tentar aprender a harmonia da melodia que havia criado. Uma busca por um acorde equivocado me deu idéia de uma nova melodia.


em 5min mais letras escritas, em 2h30 tudo gravado e mixado. interessante que a melodia, apesar de geralmente surgir do nada, é sempre dentro do clima que estou propondo. assim como uma roupa não cabe em todos os corpos, não acredito que uma melodia sirva a qualquer letra. uma coisa completa a outra, e isso já é filtrado inconscientemente.

i/o

Sentou frente àquela imagem,
e buscou o significado da origem dessa razão decodificada em cores:
Ter a compreensão, algo de maior que houvesse em si.

Levou tempo incalculável, mas chegou no seu resultado.
E ardeu em satisfação, de sorriso em lábios.
Traduziu da situação algo genial que houvesse em si.

E enfim descansou.
Não que houvesse uma dor,
mas só trouxe o sossego quando viu triunfar.
Tanto se empenhou que alcançou vitoria dessa guerra em paz

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Pintou em sua tela em branco o que lhe bem passou por sua cabeça:
É só registro e distração:
foi qualquer bobagem sem anseio de criação ou gerar debate.
Foi sem ter qualquer intenção que ele fez que “arte” houvesse ali.

E nem considerou que houvesse uma dor.
Viveu sempre em sossego, nem tentou incitar.
Tanto que, encostou este quadro, e em dois dias nem lembrava mais.