2009 – 17 – Da paisagem, por Gabriel Menezes

Bom, eu sempre tive vontade de fazer uma música mais experimental com uma “letra” declamada. Mas, faltava-me a oportunidade…até aparecer esta foto, hehe! A música segue uma linha meio atonal (afinal de contas, os bêbados não são todos atonais?) com uma espécie de restauração de tonalidade no acorde final dela.

A letra, por sua vez, não é cantada, é declamada totalmente torta, pra fazer jus ao estado etílico de uma das personagens da fotografia. Pra escrever a letra, eu imaginei a foto como se fosse um cartão-postal…e coloquei o bêbado e a estátua de Carlos Drummond como figuras coadjuvantes de todo o cenário apresentado!

Enfim, é isso….apenas voz, piano e uma certa dose de experimentalismo!

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Da paisagem
( Gabriel Menezes )

Hoj’o som da minha voz e minhas letras
vão se calar pra dar lugar a’ma carta.
Um’história d’imagens e mil surpresas
de quem sente saudades do que deixou pra trás.

Sem muitas pretensões, só quero desenhar
esta nobr’epístola tão-só abstrata.
Se serei honesto, eu não sei revelar
mas, decert’o curso da orla será meu cais.

Eu começo pelos atores principais,
encerram-se no mar com’ prata num’arca.
Olvidam a arei’e seus cartões-postais,
sem algum protetor solar não haverá paz!

A calçada repleta com maresia…
Faz uma falta perder-me por tal barca
e, exausto, deitar-me na poesia
pintada no mísero banco que se desfaz.

(…)

Ahh, quase ia me esquecendo…..do grande vate, descalço e de bermuda, a reclamar versos vagabundos para uma estátua ébria e tagarela!

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