Entrevista com Mike Vlcek

Um papo com Mike Vlcek sobre composição :

MÚSICA ARTESANAL – Quando e por que você começou a compor?
MIKE VLCEK – Comecei por volta dos 11 anos de idade (toco violão desde os sete). Nunca me perguntei o motivo, acho que compor simplesmente faz parte de mim. Provavelmente tem a ver com o fato de que sempre fui vidrado nos Beatles e via nos créditos dos discos que eles escreviam as próprias músicas. Também fiz musicoterapia por anos quando era pré-adolescente, e aprendi a ser incentivado a expressar minha criatividade e emoções através da música.

MÚSICA ARTESANAL – E como foi o nascimento da primeira composição , qual a sensação?
MIKE VLCEK – Honestamente eu não me lembro bem, porque faz muito tempo. Tudo que me lembro é de ter o primeiro grupo de seis ou sete canções, que tocava com um amigo de escola. Lembro perfeitamente, porém, da primeira música que fiz para uma garota, a minha primeira namorada. Hoje acho ela açucarada demais, mas guardo na lembrança o dia em que mostrei para ela. Inesquecível, com certeza.

MÚSICA ARTESANAL – Consegue explicar esse “açucarado demais”?
MIKE VLCEK – Cara, é simples e complexo ao mesmo tempo! Harmonia básica – C, Am, F, G na intro, essas coisas que todos nós, compositores, conhecemos. A letra era muito melosa, de um tempo em que eu era, talvez, mais sincero e idealista nessas coisas do amor. O tempo se encarregou de me deixar mais cínico e comedido nesse sentido, seja para o bem ou para o mal. Acho que é isso que eu quis dizer por açucarado – uma combinação de balada com harmonia clássica e letra ingênua. Ah, mas tinha um middle eight com baixo invertido e um acorde dissonante! (risos)

MÚSICA ARTESANAL – Para que compor? Qual a função da música?
MIKE VLCEK – Não existe uma só razão. Às vezes, quando componho exclusivamente para mim, é uma válvula de escape ou uma forma de síntese de algum pensamento que estava na minha cabeça. Quando componho para os outros (ainda mais quando existe dead line na jogada), é trabalho. Gosto de ambas as situações, pelos desafios distintos que elas exigem. Acho que o compositor, porém, possui uma relação de cumplicidade e intimidade com a música que aqueles que apenas tocam um instrumento (por melhores que sejam) nunca irão vivenciar.

MÚSICA ARTESANAL – Qual a relação que você tem com sua música?
MIKE VLCEK – Antigamente eu considerava cada música como um filho. Tinha orgulho demasiado, ciúme demasiado, essas coisas. Hoje, depois de mais de cem escritas, eu acho que música é um retrato de um momento específico da minha vida conforme o tempo passa. Ainda amo minhas músicas mais antigas com certeza, mas reconheço hoje pontos fortes e fracos em cada uma delas. Só assim se evolui.

MÚSICA ARTESANAL – Já tinha composto por encomenda? A relação é a mesma?
MIKE VLCEK – Sim, trabalho com produção de trilhas há anos. Como disse, não, a relação é completamente diferente.

MÚSICA ARTESANAL – Acha que um embasamento musical é necessário para o processo criativo? Se sim, até que ponto? Se não, é utilizado qual mecanismo?
MIKE VLCEK – Todo conhecimento é bem-vindo. Música, porém, não é ciência exata (ou não toda música!). Logo, não é mandatório ter estudado música para se tornar um grande compositor. Porém, acredito que aqueles que observam o que é feito ao redor e conseguem aprender com o sucesso dos outros, tendem a se tornar melhores em tudo na vida, incluindo composição. Lennon e Mccartney, por exemplo, nunca estudaram música, mas aprendiam e se aprimoravam observando as estruturas das composições dos artistas que admiravam. Isto posto, no mercado de produção por encomenda a coisa é diferente. Acredito que o estudo facilita muito as coisas nesse nicho.

MÚSICA ARTESANAL – Você percebe algum tipo de estilo, assinatura ou padrão nas músicas que compõe?
MIKE VLCEK – A melodia vem sempre na frente. Sempre. E acho que tenho um jeito bem meu de escrever melodias, que algumas pessoas chamam de “melodias do Mike”. Até recentemente, via as letras como um mal necessário. Sempre gostei de escrever, não me entenda mal, mas nunca tive o hábito de começar uma música a partir de um rascunho de letra. Venho me policiando muito e tratando as letras com um pouco mais de atenção nos últimos sete anos, e tem dado resultados. Quando componho trilhas, aí a melodia deixa de ser o foco principal, que vai para o arranjo e a sonoridade geral da música.

MÚSICA ARTESANAL – Me mostre um exemplo dessas “melodias do Mike”, alguma música ou trecho…
MIKE VLCEK – Algumas músicas me definem em termos de caminhos melódicos. Vou deixar duas aqui em português, da época do Monotube (2006-2008), que acredito serem bons exemplos, mas poderia escolher outras… Fabiana (http://youtu.be/BdjT6KFmTxY) e Nós (http://youtu.be/pxFzFgArj0U). Note que essas não são músicas com aquela estrutura convencional A-A-B-A-B-C-B. Em vez disso, Fabiana tem um longo verso que se conclui sem a necessidade de um “refrão”. Já Nós tem uma única linha como o “refrão”, que vem sempre ao fim dos versos. Há também uma mudança de tom, mas bem-feita, que depois se resolve no tom original – essa cafonice de subir a música meio tom repentinamente, tão comum nos anos 80, não dá, né… (risos) Enfim, acho que meu forte é a conclusão, a síntese, e isso se traduz em um carinho especial pelo refrão. Lembre-se de que conclusão é o aspecto mais importante de qualquer canção, até quando propositadamente escolhemos não concluir.

MÚSICA ARTESANAL – O que faz quando descobre um “plágio”, quando percebe que sua música parece com outra, segue adiante ou abandona?
MIKE VLCEK – Nunca me vi diante de uma situação de plágio flagrante. Já aconteceram situações em que notei ser parecido, e em algumas delas eu mudei a melodia um pouco, em outras eu banquei e segui em frente. Na música ninguém escapa de referências e eventualmente o que você fizer vai remeter a algum outro som, mas isso é normal, faz parte do jogo – basta haver bom-senso.

MÚSICA ARTESANAL – E quando e por que se abandona uma composição?
MIKE VLCEK – Quando vejo que estou num beco sem saída e não estou gostando do resultado. Porém, no meu caso, conto nos dedos de uma mão a quantidade de vezes em que abandonei uma música para sempre. Às vezes ela fica adormecida por anos, aguardando a chance de ser vista sob um ângulo diferente para, enfim, ser concluída. Já fiz isso várias vezes e sempre deu certo. A lição que aprendi é de que não existe música que não possa ser finalizada, você é que não está pensando ela da maneira correta.

MÚSICA ARTESANAL – Como reage a uma crítica negativa? Qual o peso que as críticas positiva e negativa têm em você e na sua relação com sua música?
MIKE VLCEK – No começo, quando se está aprendendo, é importante, principalmente para trabalhar com essa questão da auto-estima, sempre delicada no compositor. Muitas vezes fiquei frustrado no passado porque o jornalista A ou o produtor B não gostava do som da minha banda e tal. Hoje, dou de ombros e, honestamente, não peço opinião, nem ligo para a opinião dos outros, a não ser que esteja trabalhando em grupo, claro. Confio naquilo que faço e sigo em frente. Quem não gostar, paciência. Novamente, a coisa é completamente diferente quando se compõe para fora. Aí é preciso antes de mais nada entender o que o cliente quer porque, no fim das contas, é o gosto dele que prevalece.

MÚSICA ARTESANAL – Com que frequência compõe? Já teve períodos de seca? E como encara esses períodos?
MIKE VLCEK – De 2006 para cá, eu tenho feito uma boa média de músicas por ano. Tive meus hiatos, mas de 2012 para cá já foram 23 músicas, para dois trabalhos distintos com artistas que produzi e compus junto (tudo isso sem contar trilhas sonoras). Estou querendo muito lançar um novo EP em 2013 (o último foi em 2011), e agora estou na luta para arrumar tempo para gravar esse disco. Uma coisa bacana que aprendi no meio da produção de trilhas é que você não pode se dar ao luxo de ter crises criativas. Isso me transformou, e me fez criar métodos para driblar esses momentos. Acredite, é possível, e o resultado é que você se livra dessas algemas imaginárias.

MÚSICA ARTESANAL – Costuma registrar as músicas/ideias por escrito ou gravação, ou vai guardando tudo na cabeça?
MIKE VLCEK – Gravo tudo na hora! Na verdade já componho gravando com o celular ao lado, porque dez segundos bastam para eu esquecer uma idéia para sempre. Sou horrível para lembrar melodias novas! Um desastre!

MÚSICA ARTESANAL – Como é seu processo criativo? Há algum método ou cada música tem seu próprio caminho?
MIKE VLCEK – Umas vêm mais depressa do que outras. Recentemente escrevi um disco inteiro com o Thiago Pedalino (Ramirez) em coisa de duas semanas. A gente tinha a disciplina de escolher o tema, pegar três ou quatro canções de referência, e aí sim sentar, focados, e fazer a música. Um approach mais de quem trabalha no mercado de produção, e funcionou muito bem, até porque o Thiago é um cara muito talentoso e que pensa parecido comigo na hora de compor. Também produzi recentemente um artista chamado Brux, que em breve vai lançar o primeiro CD. Ele começava sempre cantarolando a capela para mim as melodias e letras, que eu ajudava a polir e depois criar a harmonia em cima. Foi uma maneira diferente de escrever música, e eu adorei a experiência. Já quando escrevo sozinho, geralmente espero uma centelha me levar a escrever. Confesso que esse método agora soa meio ineficiente, talvez porque há muito tempo não componho nada para mim! Quando estou fazendo trilhas, ouço as faixas de referência e vou imediatamente sintetizando tudo em uma idéia ao violão ou piano. Não existe um único caminho não.

MÚSICA ARTESANAL – Esse trabalho com o Ramirez então foi uma espécie de encomenda? Para um disco seu, você se “encomenda” um número de músicas ou vai compondo e juntando ideias e só depois pensa em organizar isso num disco?
MIKE VLCEK – Mais ou menos. O Thiago me chamou para produzir o disco, mas também me convidou para compor com ele, dadas as nossas afinidades em termos musicais. Viajei para o Brasil já levando três canções novas no bolso, pensadas para o público que a gente espera atingir, e polimos as faixas juntos, bem como escrevemos o restante das canções. A gente não criou as músicas do nada, foi tudo muito bem pensado e planejado, e hoje acredito que essa é a melhor maneira de se produzir e escrever um álbum. Instinto, sozinho, não é muito eficaz. Por isso, depois de toda essa bagagem com trilha sonora e as recentes produções, acredito que meu próximo álbum também será feito nesse esquema. Acho que nunca mais vou conseguir compor a esmo, sem uma direção, sem um propósito definido.

MÚSICA ARTESANAL – O que te motivou a participar do projeto?
MIKE VLCEK – Eu já havia participado da primeira edição do Música Artesanal e gostei da experiência. Também gosto dessa coisa de “competir” de forma sadia com os outros participantes. Não falo por mais ninguém, mas eu sou muito competitivo e estou sempre vendo o que os outros estão fazendo para tentar “superar”. Em arte isso não faz muito sentido, eu sei, mas ainda assim é um motor que me move. Eu vou sempre querer que a minha música cause uma impressão melhor que a que está ao lado na playlist, que a mix engula as demais, que os timbres impressionem, que as pessoas escutem e se surpreendam com uma passagem melódica em específico, e por aí vai… Por isso que não consegui ainda entrar no espírito de sentar na frente da câmera, pegar o violão e gravar uma música on the fly para o projeto. Mesmo se eu for fazer alguma coisa live, eu vou querer controlar a gravação do áudio e vou mixar para ter certeza de que o som do meu violão e da minha voz vai engolir o som da câmera do celular do amigo da canção ao lado no youtube! (risos) Faz parte de mim!

MÚSICA ARTESANAL – Demais (risos). Me lembrou as “disputas” Lennon x McCartney e Beatles x Beach Boys. Você consegue notar essa característica sua (de “competição”) na composição desde quando?
MIKE VLCEK – Desde que conheci meu primeiro grande “rival” e amigo, o Gabriel Menezes, também aqui no projeto. Gabriel e eu temos estilos completamente diferentes de compor, mas montamos uma banda juntos há cerca de 12 anos. A gente compôs muito junto, mas eu me lembro de, ao escutar uma música nova dele, pensar “Pô, tenho que superar isso!” (risos). Não sei se ele já se deu conta disso, mas foi essa competição sadia dentro da Onno que me fez crescer muito como compositor. Honestamente, o melhor parceiro que já tive. Senti coisa parecida compondo recentemente com o Bruno. O jeito diferente dele pensar música me fez sair da zona de conforto. Foi interessante, porque o Bruno não tem muita bagagem teórica, e faz as melodias no instinto puro, cantando sem harmonia, sem nada. Eu tinha o desafio de tornar aquilo coerente e, ao mesmo tempo, agradar tanto a ele quanto a mim mesmo. Foi interessante, pois acabou sendo uma competição minha comigo mesmo (risos).

MÚSICA ARTESANAL – Por que escolheu esses temas? Qual foi a primeira impressão diante dos temas escolhidos?
MIKE VLCEK – Busquei alternar temas com os quais me identifico e temas com os quais eu não sei muito, como forma de me forçar a pensar out of the box. Gostei da seleção dos temas, mas, claro, se fosse a minha lista eu teria algumas coisas diferentes!

MÚSICA ARTESANAL – Se considera um bom compositor?
MIKE VLCEK – Eu acredito que a falsa modéstia é tão ruim quanto a arrogância. Então, sendo sincero, sim, me acho bom. Falo isso baseado nas reações que recebo de desconhecidos sobre as minhas músicas porque, no fim das contas, quem vai julgar o seu trabalho é o público. Este ano, aliás, será um ano de revelações para mim, com dois discos de artistas diferentes chegando ao mercado com minhas composições. Vamos ver que bicho dá.

MÚSICA ARTESANAL – O que é um bom compositor?
MIKE VLCEK – Na minha cabeça, o bom compositor é aquele que possui total controle dos meios para atingir os objetivos a que se propõe. O compositor profissional, como eu digo, é aquele capaz de compor não apenas para si mesmo, mas também para os outros. Exemplo: se eu preciso fazer uma faixa para um artista, eu tenho de ser capaz de fazer esse trabalho de forma objetiva e eficaz, entendendo o estilo, a necessidade do artista e moldando a composição para ele. Compor para si mesmo é “fácil”. A coisa começa a ficar divertida quando você faz trabalhos para fora ou colaborações que te tiram da tua zona de conforto. Essa, claro, é só a minha opinião.

MÚSICA ARTESANAL – Quem é(são) a(s) principal(is) referência(s)/influência(s) de composição para você? Desde quando?
MIKE VLCEK – Desde que me entendo por gente, os Beatles fazem parte da minha vida. Lennon/McCartney são as maiores referências que tenho, mas nem de longe as únicas. Sou um amante das melodias, como já disse anteriormente, então admiro muito coisas como Bee-Gees (em termos de melodias, talvez até mais brilhantes do que os Beatles), Elton John, Pink Floyd (acho que mais por conta dos solos altamente melódicos do Gilmour) etc. Me tornei um viciado em melodias assobiáveis dessa forma.

MÚSICA ARTESANAL – E como se dá essa influência? Considera ela nítida nas suas músicas?
MIKE VLCEK – Acho que é inevitável. Meu jeito de tocar piano, por exemplo, mescla o estilo McCartney e o estilo Elton John. Meus solos buscam sempre uma solução melódica, onde o Gilmour é forte inspiração. As harmonias vocais bebem claramente da fonte dos Beatles e dos Bee-Gees, e por aí vai. Eu posso compor para qualquer estilo, mas esse apreço pela melodia é algo que sempre levo comigo em qualquer projeto no qual me envolvo.

MÚSICA ARTESANAL – Você costuma compor com um instrumento “no colo”? Sente diferença ao compor no piano e no violão? Saberia explicar o que?
MIKE VLCEK – Raríssimas são as músicas que escrevi na cabeça enquanto andava na rua ou coisa parecida. Sempre estou com o violão ou piano (e, mais recentemente, com o ukelele). E sim, é completamente diferente compor para vioão e piano, pela natureza e recursos completamente diferentes dos instrumentos. Acredito que o compositor que toca só violão ou só piano está perdendo uma parte importantíssima do processo de criação. É como o cara que quer ser piloto de aeronaves mas fala só português… Não irá muito longe. Mas veja bem, não é preciso ser um ás do instrumento. O importante é saber se virar o suficiente para não ficar perdendo tempo pensando em que notas apertar em vez de focar na criação em si! Eu tenho uma máxima: se a música que você fez no violão for quase impossível de ser reproduzida de forma satisfatória no piano (e vice-versa), você fez um bom trabalho! (risos)

MÚSICA ARTESANAL – Consegue identificar algum divisor de águas na sua vida musical? Um disco, uma música ou algo que aprendeu e que, hoje, olhando para trás, você nota que a partir dali as coisas começaram a ser diferentes no seu processo criativo e/ou no resultado?
MIKE VLCEK – Tive dois. O primeiro foi, obviamente, trabalhar com o Gabriel e o produtor Marcos Sketch na Onno. Aprendi muito com ambos, e sei que também passei alguma coisa para eles. O segundo, foi ter montado a Sonatta (minha empresa de produção em UK) e caído de cabeça no mercado de trilhas. Mudou completamente minha atitude perante o processo criativo.

MÚSICA ARTESANAL – Se tivesse que escolher uma música preferida sua, qual seria?
MIKE VLCEK – Desde 2007 tenho uma predileta, que até hoje não foi superada. Se chama Bem-Te-Vi, e foi a última canção que escrevi em português até esse ano, quando produzi o Ramirez. Fala de um tema forte, suicídio, e ao longo da canção a coisa vai se desenrolando, até culminar com a parte da queda do alto do prédio e tal. Até hoje quando escuto essa música bem alto fico arrepiado… O link é esse aqui: http://www.youtube.com/watch?v=D3z7LsPQBxo

MÚSICA ARTESANAL – Já ouviu uma música e quis fazer algo como ela? Tem exemplos?
MIKE VLCEK – Sim, várias! Por exemplo, quando escutei Dance Tonight do McCartney pela primeira vez, pirei. Peguei versões do áudio com e sem o vocal e acrescentei uma versão minha fazendo dueto com ele e pus no Youtube. Foi removido por violação de direitos autorais! (risos). Fiz também vários covers de músicas na vida, cara, tanto por prazer quanto para me aprimorar no processo de gravar. Quando era moleque, gravava vários covers dos Beatles, Bee-Gees etc em um gravador cassete de quatro canais, e essa foi a minha escola. Tenho mais de 100 covers toscos (risos), e considero essa bagagem fundamental na minha vida como produtor e compositor. Também fiz uns covers de canções de bandas do underground que eu adorava, como o Abaixo de Zero e o próprio Lasciva Lula em que você tocava. Fiquei tristão quando soube que a banda ia terminar e gravei uma versão reflexiva de Danço Na Chuva, minha predileta. De certa forma, a cada banda que acabava um pedacinho da nossa história, como uma cena coletiva, morria também, e isso sempre me tocou. Bons tempos que não voltam mais…