2009 – 06 – A volta da volta do boêmio, por guga_bruno

A frase me passou a ideia de um cara desafiando deus . me veio à lembrança um verso da música “medo de deus” do moska ( “as vezes sinto raiva de deus , das noites que ele bebe e não sabe o que faz” ) . pensei então num embate entre um homem e deus . depois pensei em contar a história do ponto de vista de deus . então resolvi fazer uma letra inspirada em “nave de noé” ( felipe schuery e lasciva lula ) e “as intermitências da morte” ( saramago ) pra narrar uma ideia antiga ( que é a conclusão da história ) .

Como não tenho o hábito de escrever longas letras narrativas e tenho ouvido muito bob dylan ( e tocado também , devido a um gesso que me acompanha há algumas semanas na mão direita , é basicamente o que consigo tocar no violão ) , resolvi fazer uma música bem bob dylan , quase uma sátira ( acentuado na minha interpretação de algumas notas mais agudas ) . Aproveitei pra gravar em apenas uma tentativa , bem bob dylan também . ah , e botei também um barulhinho de vinil , só pra dar um charme .

A volta da volta do boêmio

ele acordou de repente
com dor de cabeça
correu pro banheiro
e expurgou os excessos de ontem

e só se deu conta
do que havia feito
quando enxergou
o portátil ligado sobre a mesa

ele já estava cansado
da sua existência
de ser uma dúvida
ser questionado por tudo

não justificava a sua atitude
agora é tarde ,
levanta a cabeça e aguenta

no dia seguinte
na pasta de entrada
de dois jornalistas
e em poucos segundos
no mundo

na capa do impresso
na frente do site
virou até tema de blog
de música e assunto

dizia a mensagem
que na sexta-feira
viria ao mundo
pra comunicar um assunto importante

só responderia
ao que bem lhe agradasse
não era entrevista
apenas um pronunciamento

passou a semana
pensando em discurso
não tinha ideias
era sua chance de ser espontâneo

e finalmente
em bilhões de anos
podia dizer ao menos
como se sentia

motivo de festa
virou feriado
esperança de paz
tolerância
e entendimento

pessoas nas ruas se cumprimentavam
abraçavam inimigos
e até perdoavam suas dívidas

nem o mais são-consciente
pensava o motivo
ou se questionava
a respeito do acontecimento

todos queriam
a chance de ve-lo
de ouvir sua voz e
ao menos sentir
sua presença

o tempo passou
tão depressa
e o clima nas ruas
era sempre mais amistoso

e na quinta à noite
até eu tive insônia
pensando que aquilo
seria de fato incrível

quando chegou
sexta-feira
o mundo parou
pra assistir
ao seu maior evento

todos diante da tela
atentos , sorrindo ,
ansiosos , fervendo por dentro

ele surgiu
com sua barba bem feita
dizendo somente uma frase
“eu não existo”

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